San Diego Chronicles

... o sabor da Tequilla e das enchiladas, o brilho da areia, as ondas do Pacífico, as cores do México, o som do Jazz, dos Blues, do Funk, o movimento nas ruas, aquilo que me surpreende, o que me fascina, o que me apaixona, o que me chateia, ou apenas aquilo que me vai na cabeça...

Friday, August 18, 2006

Santa Bárbara

Acordamos ao início da manhã e ao abrir das cortinas fomos brindados com uma vista dos montes que rodeiam Santa Bárbara a enquadrarem o hotel e a piscina. Arrumámos as coisas, fizemos o check out do hotel e fomos para o centro de Santa Bárbara visitar a cidade e tomar o pequeno-almoço. Estacionámos perto da State Street e começámos a nossa visita. Para repor forças começámos pelo objectivo primário de comer um verdadeiro pequeno-almoço anglo-saxónico. Desencantámos um local muito simpático e abastecemo-nos de calorias e proteínas para o resto do dia num dos pequenos-almoços mais exagerados que alguma vez comi, mas também num dos melhores e mais saborosos. Vagabundeámos pelo centro da cidade que está repleto de lojas, restaurantes e pequenos bares. É uma cidade muito limpa e ordenada, como quase todas nos EUA, e com um nível de vida aparentemente superior a Santa Mónica. É uma zona onde as pessoas são diferentes. Não falei com muitas, mas são coisas que se notam. Falam de forma diferente, vestem-se de maneira diferente, os seus gestos são diferentes. Há grandes influências espanholas nas casas coloridas ou nos enormes pátios, nas flores que animam as soleiras ou nos telhados. Notam-se também influências europeias noutras coisas, e talvez daí a minha sensação de em Santa Bárbara as pessoas serem diferentes. Para além do aspecto pacato e pitoresco das casas e das ruas, no seu estilo colonial europeu, o centro da cidade não oferece grandes pontos de interesse. É, no entanto, uma cidade muito agradável e alegre.
Já à beira-mar fizemos o passeio junto à praia que nos leva até ao pontão de Santa Bárbara. A baía é calma e um bando enorme de albatrozes cinzentos descansava nas águas ternas do pacífico. Já ali ao lado uma pequena feira de artes dava um colorido especial à paisagem por entre os relvados que antecedem a areia da praia. Um pouco mais à frente tínhamos uma piscina seca ali colocada propositadamente para os skaters deslizarem a seu belo prazer. Ficámos ali um pouco a observar as suas acrobacias, algumas bem feitas e outras que acabavam no chão com estrondo, e seguimos depois em direcção ao pontão. À entrada do pontão um escultor de areia acabara de moldar um soldado americano na perfeição, um marine de areia que guardava a praia de plantão. Ao subir ao pontão e ao espreitar para a praia do outro lado vemos um memorial em honra dos soldados mortos no Iraque. Um mar assustador de cruzes brancas que impressiona na imensidão do areal juntamente com a dor silenciosa de alguns americanos que olham inconformados para aquele cemitério simbólico. Viam-se alguns cartazes a pedir o fim da guerra e bandeiras americanas hasteadas ao vento. Um dos senhores responsáveis pela organização daquele memorial veio-nos oferecer um postal com uma foto nocturna tirada no dia dos veteranos da mesma praia cheia de cruzes e velas. Apercebendo-se que éramos estrangeiros dedicou-nos algumas palavras a explicar a situação americana no Iraque, e a posição daquela comissão. Aqui vemos o outro lado do imperialismo americano, e percebemos que por trás das demonstrações propagandísticas de força está um povo vulnerável como todos os outros. Apercebemo-nos também, e é algo que não me canso de verificar, da diversidade de opinião que aqui existe, muito longe do retrato implacável que traçamos do povo americano à distância de um oceano. Se vemos os falcões, representados pelo Presidente Bush, vemos também outras correntes de opinião a fluir livremente e sem preconceito. Tem-me sido, aliás, difícil encontrar os ditos falcões no informado estado da Califórnia.
Um pouco mais à frente, também no areal, vi umas das formas divertidas de dar esmolas a um sem abrigo. Uma toalha na praia, em cima um balde com um fundo de água, e um pequeno cartaz a desafiar-nos a acertar no balde. À frente um mais difícil, com um fundo de garrafa e um peluche. Hesitamos muitas vezes em dar esmolas, mas venham-nos desafiar o competitivo ego masculino com um bom desafio que cedemos rapidamente. É assim a condição humana, e foi assim que acertei à primeira no balde e fui congratulado pelo americano que também se debruçava no pontão. Coisas de homens. E quem ganha é o sem abrigo. Chegando ao fundo do pontão, já bem dentro do Oceano Pacífico, olhamos para trás e vemos toda a baía de Santa Bárbara numa curva acolhedora para receber o Pacífico, e Santa Bárbara a estender-se em anfiteatro até os verdes e imponentes montes de Santa Ynez rodearem esta pequena cidade e se elevarem para interromper o nosso campo de visão. A paisagem convidava à contemplação, mas o dia avançava impiedosamente, e a nossa agenda ainda incluía deveres turísticos para lá dos montes de Santa Ynez, e deveres sociais em San Diego com a importância de um concerto de Franz Ferdinand, e por isso apressamo-nos para o carro para rumar ao Santa Ynez Wine County, a área vinícola desta zona da Califórnia.

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