Fugir de Las Vegas pela Route 66
O objectivo para o dia seguinte seria o de sair bem cedo em direcção ao Grand Canyon, chegar lá ao início da tarde, degustar aquela paisagem com alguma calma, e voltar para trás quase 100 km para Williams, a pacata cidade na Route 66 onde tínhamos marcado hotel. Claro que não cumprimos nem de perto o horário estabelecido. Entre as 11 e o meio dia, e a muito custo, saímos de Las Vegas. Umas milhas para sul pela Route 93 vamos encontrar Boulder City, onde paramos para comprar água e uns mapas, e logo ali mais à frente a imponente Hoover Dam. Esta mega construção humana que trava o rio Colorado, formando um imenso lago no meio do deserto, que separa o Nevada do Arizona, foi apenas um pequeno ponto de paragem, já que mantínhamos a esperança de ainda apanhar o Grand Canyon com dia. Seguimos viagem pela 93, e em Kingman apanhamos a I-40, a alternativa rápida à mítica Route 66 que também por ali se atravessa. No entanto, nenhuma road trip por aquelas paragens estaria completa sem uma incursão nessa famosa estrada, por pequena que fosse. Saímos então da auto-estrada para pôr gasolina e descansar um pouco umas 90 milhas à frente em direcção a Seligman, no local em que a Route 66 volta a encontrar a I-40 no meio do Arizona. Seligman, como muitas das localidades por onde a Route 66 se atravessa, desde Los Angeles a Chicago, aproveita turisticamente a famosa estrada. Paramos numa casa de souvenirs alusivos à Route 66 a piscar o olho aos motoqueiros a que o Beiça não ficou indiferente, engrossando logo ali o manancial de material e apetrechos que tinha vindo a comprar até então. À porta, dois carros americanos clássicos posavam para os turistas, abrindo o apetite para o que ainda estava para vir. Apoiados nos carros, uns manequins vestidos com roupa dos anos 60 tentavam compor o cenário retro pretendido. Mas que raio de mania esta dos manequins tem esta gente do deserto! Paramos ainda para comer qualquer coisa em mais um dinner bem americano, na consciência já de que não iríamos visitar o Grand Canyon naquele dia.
Umas 20 ou 30 milhas para leste chegamos a Williams. Williams é uma vila que rodeia a Route 66, e que serve de repouso aos visitantes do Grand Canyon e de outras belezas naturais, como Sedona para sul. A pacata vila é cheia de cowboys, onde abundam chapéus largos, coldres, botas, couros, e outras alusões a um estilo de vida não muito longínquo. De facto, passeando pela vila, não são raros os pretensos cowboys locais, que mantêm aquele ar que nos habituamos a ver no John Wayne ou no Clint Eastwood. Para completar o boneco, estes cowboys cumprimentavam-nos com um subtil acenar de cabeça, levando a mão ao chapéu e puxando-o ligeiramente para baixo, num sinal de respeito e boa educação. Passando na rua principal em direcção ao nosso hotel podemos também ver imensos carros clássicos americanos que logo nos chamaram a atenção, já que naquele fim-de-semana havia por lá um encontro de carros antigos. Depois de instalados, fizemos aquela rua para trás e para a frente a deliciar-nos com aqueles carros que habitam o nosso imaginário. Num pequeno largo junto a umas lojas, uma banda de senhores com idade para ter juízo tocava clássicos do rock & roll com uma energia invejável, dando um colorido maior a todo aquele cenário. E assim nos deixamos absorver pelas inúmeras referências e estereótipos que nos invadiam a cada segundo. Tivemos ali um banho de América, com tudo o que conhecemos da cultura americana através do maior ícone cultural americano: o cinema. A música, os carros, as motas, os motoqueiros, os dinners, os cowboys, os seus chapéus, as comidas, eu sei lá… E para completar a overdose iconográfica, bebemos um magnífico e imenso batido de morango num famoso dinner da vila, mesmo em frente ao nosso hotel. E o dia acabou para nós antes das 10 da noite, cansados da viagem e da noite anterior, a adormecer ao som de Credence Clearwater Revival e outros clássicos tocados pela dita banda anciã.
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