Road Trip Pelo Deserto
Chegados ao fim de semana, rumamos a Las Vegas e Grand Canyon. Aí sim, foi uma risota, numa viagem com toda a excitação e interesse que uma road trip pode ter. A viagem feita ao fim da tarde roubou-nos alguma da paisagem do deserto de Mojave por onde passamos já de noite. No entanto, não nos roubou o acesso ao interior profundo da América, e às experiências únicas que lá se podem ter. Depois de umas duas a três horas de viagem, a fome começou a apertar, assim como a necessidade de esticar as pernas. Depois de hesitar sair da I-15 umas quantas vezes e falhar então os habituais Mc Donalds, Jack in a Box, e demais fast foods, decidimos sair numa saída para encontrar onde comer. Logo à saída da auto-estrada um dinner à boa maneira americana, com uns neons retro que indicavam o Peggy Sue’s 50’s Dinner. Pareceu-nos bem enriquecer a nossa experiência pela América profunda indo a este dinner clássico. Ao entrar foi como se tivéssemos atravessado um portal temporal que nos transportou num repente para os anos 50 ou 60. Eu já tinha ido a alguns dinners que exploravam, e bem, os dourados anos do rock & roll, com as jukeboxs, as fatiotas dos empregados, e a decoração, como no Ruby’s em Palm Springs, ou o Johny Rocket em Washington. Mas este era diferente. Se os outros recriavam, encenando uma época, este parecia de facto parado no tempo, o que lhe dava um ar bizarro, mais que caricato ou castiço. Mal entramos, deparamo-nos com os típicos balcões destes dinners, com os seus banquinhos em fila. Para adensar a bizarria, um manequim feminino vestido a preceito de empregada estava sentado no primeiro dos bancos, parecendo uma empregada empalhada, dando agora um ar “necro”, em vez do assumido retro. Logo à direita, outra empregada empalhada, em pé, como que a dar-nos as boas vindas. Perto de uma janela, ao fundo da sala do lado direito, um boneco do Elvis em tamanho real. E mais ninguém habitava aquele restaurante. Nós entramos, intrigados e curiosos, e lá nos apareceu uma empregada de carne e osso finalmente. Sentamo-nos numa típica mesa de sofás corridos, e podemos observar melhor o bizarro local onde nos fomos meter. O facto de estarmos no meio do nada, e de sermos os únicos clientes, acrescentava os condimentos que faltavam ao ambiente, e a nossa prodigiosa imaginação ajudava a compor um cenário estranho e enigmático. A empregada era uma personagem estranhamente inocente e divertida, com risos enigmáticos e despropositados, e uma ignorância abençoada, que podia muito bem ter saído de um filme de David Lynch. Só a confusão que lhe causou o facto do Beiça não querer batatas no seu hambúrguer. “Just the burguer? No fries? Ahah … Hummm. But it comes with the burguer… Well… Ok. I have to talk with the cook”. Passado um minuto a registar os outros pedidos: “Well…I’ll tell you what im going to do. I’ll bring you the burguer with the fries, and you eat whatever you want. Ok? You can leave them…”. Bem, lá teve que ser. Não queríamos complicar a cabecinha da menina, nem enfurecer o cozinheiro, que era um típico agricultor americano, com jardineiras de ganga largas, caviada branca, e boné à camionista. Espalhadas pelas paredes estavam fotografias de inúmeras celebridades de outrora, como a Marilyn, o Elvis, o Buddy Holy, o James Dean, e muitos outros. A música que se ouvia, está visto, era rock & roll do antigo. Foi uma refeição diferente, sem dúvida, algo perturbada pelo facto de termos sido fechados à chave pelo rude cozinheiro, que rematou o acto com um seco “Now you are locked inside”, seguido de uma estranha gargalhada. Foi uma gracinha do pobre homem, que apenas queria evitar a entrada de mais clientes, já que o tasco estava a fechar. Depois do contacto com o surreal, a volta à estrada para percorrer as milhas em falta até Las Vegas.
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