Death Valley: Um Dia No Deserto
A utópica ideia de dar apenas uma vista de olhos pela noite de Las Vegas para sair pela fresquinha em direcção ao Death Valley e compensar o atraso do dia anterior foi isso mesmo, uma utopia. A noite foi tudo menos tranquila, e o acordar muito menos. Obrigados pelas regras hoteleiras a sair do conforto do sono ás onze da manhã, o mais tardar, arrastamo-nos para fora do quarto no típico estado “Las Vegas by morning”, e fugimos dali no também típico impulso de repulsa que aquela cidade induz na ressaca do dia seguinte. Almoçamos já nos arredores da cidade e seguimos para o Death Valley pelo deserto do Nevada. Aquela estrada que segue para norte, a US-95, a certa altura circunda uma base aérea norte americana, e mais à frente por uma estrada ultra vigiada pode-se seguir para a Área 51, a mítica e misteriosa base ultra secreta militar adorada pelo maluquinhos dos OVNIS. Bem, “pode-se seguir” é uma força de expressão, já que se metermos naquela estrada e formos longe demais é possível que não voltemos a ser vistos tão cedo, já que os serviços secretos americanos são muito ciosos do que se passa dentro daquele perímetro. Paramos para pôr gasolina numa estação que se orgulha de ser a última antes da Área 51, a Nevada Joe’s, onde as alusões a aliens e discos voadores abundam, e bem perto dali, nas imediações, podíamos ver auto-caravanas cheias de antenas de freaks que dedicam a sua vida a captar sinais e observar com telescópios os céus à procura dos OVNIS dos voos experimentais da força aérea norte-americana. Continuamos pela deserta US-95 debaixo de um sol abrasador e perante paisagens cruas e inóspitas onde vales e montes sépia amarelados e a imensidão do deserto do Nevada formam paisagens belas e arrebatadoras. Chegados a uma pequena vila de pistoleiros paramos no primeiro posto de informações do parque, a entrada leste do Death Valley, e viramos para a NV-374 que nos leva ao coração do vale mais inóspito e profundo do hemisfério norte do globo. A estrada começa por subir, transpondo a cadeia montanhosa que nos separa do Death Valley. A paisagem já era de si desértica na anterior estrada, mas ao atingirmos o outro lado da barreira montanhosa entramos numa imensidão que chega a ser aterradora. No asfalto e na terra queimada vêem-se nitidamente as ondas translúcidas e ondulantes do calor insuportável que se faz sentir fora do nosso refúgio automóvel. Lá em baixo, bem no fundo do vale, uma enorme mancha branca de areia realça a violência da paisagem e das suas condições. Quando abrimos a janela pela primeira vez, parados na berma da estrada para tirar uma foto, fomos atacados pela violência do calor e secura que nos atingiu como um soco no estômago. Impressionante! Guiando-nos pelos mapas do parque natural fomos calcorreando milhas pelos maiores pontos de interesse. Atingimos o ponto mais baixo do hemisfério norte, 85 metros abaixo do nível do mar, vimos formações rochosas belíssimas, testemunhamos a aridez imensa, a leveza das dunas. O Death Valley é impressionante pela sua força e violência, mas também pela sua beleza e diversidade de paisagens. O Zabriskie Point proporciona-nos paisagens belíssimas, o mesmo se passando com as ondulantes Sand Dunes. Tivemos ainda tempo para um contacto com um local, um pacato e enternecedor coiote que estava próximo da estrada, e que não se atemorizou com a nossa paragem para o observar. Penso mesmo que despertamos a sua curiosidade, ou talvez o seu instinto de sobrevivência. Já a tarde começava a cair, e nós ainda queríamos ganhar tempo, indo dormir o mais próximo possível do Yosemite Park. Rumamos então para oeste, subindo agora a cordilheira montanhosa que isola o Death Valley da humidade e das nuvens do Pacífico. Pelo caminho fomos presenteados com mais um pôr do sol maravilhoso no deserto montanhoso, um festim de cores e luminosidades. Já de noite, acabamos de ultrapassar as montanhas e saímos definitivamente do perímetro do Death Valley, indo apanhar mais à frente e um par de horas depois a US-395 para norte em Lone Pine. Depois de parar nessa pequena localidade para reabastecer o tanque do jipe e o nosso reservatório de cafeína, seguimos para norte até onde nos fosse humanamente possível continuar. Queríamos compensar o tempo e milhas perdidas anteriormente. Fomos então mais cerca de 100 km para norte, acabando por parar já exaustos em Bishop, uma pequena cidade de estrada com bastantes motéis, em grande parte devido à sua proximidade de algumas estâncias de ski e snowboard, especialmente uma que é das melhores dos EUA, Mammoth Mountain. Pelo caminho, e mesmo pelo meio da escuridão, podemos descortinar ao nosso lado direito uma imensa cordilheira de montanhas que nos acompanhou até Bishop. Chegados a Bishop tratamos de nos instalar, comer, e descansar da longa e cansativa jornada, depois de um acordar sobressaltado em Las Vegas. Foi um dia duro, mas bonito e gratificante.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home