O Vale Encantado de Yosemite
Retomamos a US-395 para logo a seguir virarmos para oeste na CA-120 em direcção ao Parque Nacional de Yosemite. Finalmente viramos na direcção das montanhas que interminavelmente nos vinham acompanhando desde de Lone Pine, como se tivéssemos ganho coragem de as enfrentar. Mas não, era antes parte do nosso plano de viagem, e estava mais dependente da estratégia de traçado de estradas dos norte americanos do que de outra coisa qualquer. Começamos a subir levemente e a vislumbrar ao fundo montanhas bem mais imponentes que teríamos que atravessar. A paisagem começa a mudar, e os pinheiros começam a aparecer de novo, assim como lagos e pequenos riachos. Paramos para almoçar numa aldeia já a meio da montanha na zona de Tioga, o nome da entrada leste do Parque Nacional de Yosemite. Um belo almoço rematado com a típica e caseira tarte de maçã quente com gelado de baunilha que estava deliciosa. Estavam repostos os níveis de açúcar no sangue e o corpo preparado para o resto da viagem. Seguimos para o coração do Parque Nacional de Yosemite. Cerca de uma hora depois, passados lagos e montanhas, entramos no vale de Yosemite, o parque propriamente dito. Descemos em direcção ao vale, e olhando para o nosso lado direito vemos um vale verde de onde emerge uma rocha maciça e vigorosa que vigia o rio que estreito e lesto corre bem lá no fundo. Fabuloso! O vale de Yosemite parece como que uma paisagem parada no tempo, uma floresta milenar de onde a qualquer momento parece ir aparecer uma espécie de dinossauro esquecida nos livros de história natural. E apesar das hordas de turistas que entopem as vias de acesso ao parque para dele desfrutarem, o parque mantém-se limpo, tranquilo e minimamente selvagem. É de louvar o gosto que os americanos têm na sua riqueza natural, nos seus parques, a forma como os cuidam e os visitam. Continuamos a descer para o mítico vale, e quando chegamos perto da sua base começamos a acompanhar o rio que antes tínhamos visto como um pequeno veio seminal no meio da imensidão da paisagem. Depois de várias pequenas paragens para apreciar o parque e as paisagens, fizemos uma paragem mais demorada para nos embrenharmos pelo meio da natureza até acharmos a cascata Bride Veil. A cascata ainda mantinha um fluxo convincente, apesar de ser Setembro. Não tivemos a mesma sorte com a outra cascata, a mais conhecida do parque. A água destas cascatas provém do degelo da neve e gelo acumulados no Inverno, e por Setembro já a neve cumpre outro papel no ciclo da água. Ali bem debaixo da cascata, depois de escalar pedras e pedregulhos, para além da vista privilegiada da cascata, tínhamos uma vista magnífica do vale até aos imponentes maciços rochosos do outro lado. Voltamos ao carro e seguimos lentamente pela estrada que nos conduz pelo meio do parque. O único senão do parque será os imensos turistas que o escolhem como destino. Mas não é de estranhar que tal aconteça, já que é um local de uma beleza intransmissível por estas linhas. Árvores enormes e imponentes, montanhas e vales, rochas maciças, animais selvagens, cascatas, um verde imaculado, um silêncio natural, aquele que inclui o barulho selvagem de uma floresta virgem. O parque tem como que uma aura de vale encantado, um mundo perdido tornado acessível pelas maravilhas do alcatrão. E no entanto essa aura permanece intocável. Mais à frente temos a vista do Half Dome, um rochedo gigantesco no topo da montanha que impõe respeito, e do outro lado um vale verde lindíssimo que termina interrompido abruptamente por uma escarpa de pedra. Continuando pela estrada chegamos à pequena vila de Yosemite, fundada pelos primeiros exploradores daquele vale encantado algures no início do século 20. Seguindo pela estrada estamos a voltar para trás pelo outro lado do rio, explorando agora a outra margem à medida que vamos fazendo o caminho de volta. Tentamos em vão ver a maior cascata do vale, mas o Verão avançado de Setembro tinha já secado a água que supostamente cairia desamparada daquela parede muda de pedra. Fomos percorrendo o caminho de volta à medida que a tarde caía, e saímos do parque com o sol já a querer pousar nos montes. Pela nossa frente esperavam-nos ainda cerca de 3 horas de viagem até San Francisco.
Em San Francisco esperava-nos o João, o nosso amigo que lá assentou arraiais e que nos esperava com um prometido arroz de marisco à moda do nosso Porto. Depois de mais um pôr do sol magnifico por entre montes e rios, seguimos de noite estrada fora até avistar a bela San Francisco. Pela I-5, e depois pela 405, fomos caminhando em direcção a Frisco, ou Cisco, os nomes carinhosos que os seus habitantes usam para falarem de San Francisco. Entramos pela Bay Bridge, a ponte menos conhecida da cidade, a irmã esquecida da famosa Golden Gate, e dela podemos ver a Downtown da cidade a brilhar na noite escura, com as longas torres e prédios a formarem fileiras de luzes e a deixarem adivinhar o aglomerado urbano que ali se ergue. Também a ponte brilha de noite, com todos os seus arcos, grades e postes percorridos por pequenas luzes. Seguindo as indicações que tínhamos, e com a ajuda de um pequeno mapa, conseguimos chegar ao cruzamento da Vallejo com a Leavenworth e descarregamos o jipe para a bela casa vitoriana do João. O arroz de marisco já refogava e nós lavávamos a garganta do pó da estrada com uma cervejinha fresquinha para podermos contar as peripécias da viagem descansados. Jantamos, conversamos, matamos saudades, e fizemos uma pequena incursão pelas redondezas, indo acabar num pub a pôr a conversa em dia. O cansaço era muito, e o dia seguinte era para aproveitar bem já que era o último do Chico, e recolhemos então a casa para finalmente descansar.
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