San Diego - Las Vegas: O Começo De Uma Longa Jornada
Como de costume não fomos capazes de cumprir o ambicioso horário que nos tínhamos auto proposto de sairmos de San Diego pelas 8 ou 9 da manhã para ainda conseguirmos ver o Death Valley nesse mesmo dia, antes de irmos dormir a Las Vegas, ou lá o que raio se faz naquele sítio maldito. Então, correspondendo às previsões mais optimistas de quem nos conhecer minimamente, pela meio-dia estávamos a percorrer as primeiras milhas de alcatrão no sistema de auto-estradas norte-americano. O carro era confortável e de boa condução, o que facilitou a difícil travessia do deserto até Las Vegas nas horas de calor de um Setembro quente. Fomos comendo milhas e observando a sempre sedutora paisagem desértica do interior da Califórnia. O primeiro contacto para o Chico, e para mim mais umas imagens para a minha colecção de memórias. A pouco mais de meio do caminho decidimos parar para descansar e comer qualquer coisa. Queria ter levado o Chico para outra dimensão espaço temporal, introduzindo-o ao Peggy Sue’s Dinner, o estranho e bizarro restaurante parado no tempo que eu, o Marco e o Beiça tivemos a duvidosa sorte de encontrar. Mas esse já tinha ficado umas boas milhas atrás no caminho, por isso qualquer Dinner de bancos corridos e aspirantes a cowboys serviria. Ironia do destino, metemos numa saída da Interstate-15 que ía dar a um outro Peggy Sue’s Dinner, desta vez o original, o que começou o fenómeno. Apesar da decoração ser na mesma linha, de ter um boneco de louça de tamanho real do Elvis, e outros da Marylin e dos Blues’s Brothers, a atmosfera estranha não era a mesma. Era castiço e bizarro, mas não de outra dimensão. Valeu a pena no entanto, já que é um típico Dinner americano, mais típico que muitos, algo que o Chico ainda não tinha experimentado. Descobri também no parque de estacionamento que o Chico tinha umas ideias revolucionárias para fotografias em movimento que tinha trazido de Portugal juntamente com as duas garrafas de Vinho do Porto que até aqui transportou cuidadosamente. Fisiologicamente refeitos, resolvemos visitar uma pequena vila fantasma que ficava a umas 5 milhas dali. Seguimos as placas, Calico – Ghost Town, e fomos dar a uma cidade museu mantida em pé para turista ver. Calico era uma antiga cidade mineira, como milhares de pequenas cidades espalhadas na Califórnia que floresceram no tempo dos garimpeiros, da caça ao ouro, da época que deu à Califórnia o epíteto de Golden State. A cidade estava mesmo fantasma, apenas com alguns turistas de ocasião e nem um cowboy para amostra. No entanto é engraçado estar numa destas cidades do antigo oeste, imaginar os duelos, as brigas, as bebedeiras no Salloon, as prostitutas, o sheriff, enfim, reviver na memória aquilo que nos vendem há anos nos filmes de Hollywood.
O dia caminhava já para o final e era mais que tempo de nos fazermos à estrada definitivamente rumo a Las Vegas. O final de tarde no deserto da Califórnia é fabuloso. O sol oblíquo começa a criar sombras nos montes despidos e rochosos, iluminando as suas encostas selectivamente e criando nuances de luz e cor que nos ofuscam. O céu, por sua vez, começa a refractar a luz do sol, tomando as mais variadas tonalidades quentes da paleta. Misturado com o azul do céu começamos a ver púrpura, amarelo, vermelho, rosa, laranja. Há medida que vai escurecendo são estas cores que nos iluminam. Não há nada como um fim de tarde no deserto da Califórnia. Já no estado do Nevada a tarde caía, e vislumbramos ao longe o primeiro templo do jogo. Um casino de cada lado da autoestrada serve de paragem forçada aos jogadores mais ansiosos. Nós paramos, mas o motivo não foi o jogo. O motivo foi o céu que assumia agora a sua glória, o seu momento boreal, onde a infinidade de cores se misturava com o reluzir irritante e sedutor dos neons dos casinos. Tiramos as fotos para posteridade e seguimos viagem. Tínhamos ainda cerca de uma hora estrada pela frente. Já de noite os nossos olhos descansam enquanto podem das cores e luzes luxuriantes do deserto. Mas por pouco tempo, já que ainda Las Vegas estava longe quando vislumbramos um tapete luminoso num imenso vale no meio do deserto. Eram milhões de luzes de todas as cores e focos que se projectam no céu. Vamo-nos aproximando e as luzes começam a ganhar formas, os prédios mais emblemáticos e imponentes começam a distinguir-se no meio da confusão luminosa, e o céu tem já uma cor amarelada. Não é dia, mas também não é noite. É Las Vegas.
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