6 Meses
Faz hoje 6 meses que me mudei para San Diego. Meio ano. Meio ano a viver 8 horas atrasado de Portugal. Meio ano neste país de contrastes. Meio ano a conhecer e conviver com este povo simples, para não dizer saloio, que é o povo americano. Meio ano a tentar explicar como se pronuncia João. Meio ano a trocar o João por John, enquanto explico que é a mesma coisa. Meio ano a acordar com a luz deste país que não conhece persianas. Quanto mais viajo mais penso que foi um português preguiçoso que inventou um dispositivo que permitisse que ele não acordasse com a luz do sol. Já na Polónia passei meio ano a acordar com a luz do dia… e mais meio ano já lá vai. Isto não faz bem de certeza. E foi também meio ano de concertos e viagens. Meio ano de descobertas. Meio ano de trabalho numa empresa científica de top americana. Meio ano de horas passadas no messenger a matar saudades dos amigos. Meio ano sem o futebol, esse vício, e sem o meu FCP. Meio ano a sofrer por fora com a desorientação do meu país. Meio ano a pensar o que vou fazer com esta excelente experiência de trabalho, num país sem indústria de ponta na área farmacêutica e na biotecnologia, e sem inovação significativa nas outras áreas. Meio ano a defender o nome de Portugal aos olhos de energúmenos que nem sequer sabem do que estou a falar. Meio ano a escrever para este blog, tentando manter uma ligação entre mim e todos os vocês que me conhecem, ou a estabelecê-la com outros que não me conhecendo gostam de ler as minhas aventuras, tentando dar a conhecer um pouco da minha experiência, um pouco do que se passa do outro lado do mundo, enquanto vocês dormem tranquilos nas vossas casas lusitanas.
E o que dizer deste meio ano? Foi bom? Valeu a pena? Foi! Valeu! Cresci mais um bocado como pessoa. Aprendi como se trabalha na economia que é líder mundial. Aprendi como pensa este povo que com um arrogante desconhecimento nós criticamos na Europa. Aprendi, na verdade, que este povo nem sempre pensa. Aprendi que os lugares comuns sobre os EUA, são realmente comuns neste lugar. Mas aprendi a respeitá-los também. A compreende-los. Aprendi, mais uma vez, a ter orgulho no meu país e naquilo que sou. Orgulho no nosso passado admirado por estas bandas, mas mais ainda nas conquistas do nosso presente. Aprendi, apesar do pessimismo e da crise, a ter confiança no meu futuro, e também no do meu país. Aprendi que se pode ter agradáveis surpresas do onde menos se espera. Aprendi a perceber as principais diferenças entre a Europa e os EUA, os Europeus e os Americanos. Aprendi porque a palavra democracia nem sempre significa ser livre. Aprendi a gostar cada vez mais da minha condição de Europeu. Aprendi a perceber o que realmente me faz falta na vida, os pequenos prazeres, os pequenos momentos, os condimentos que a vida deve ter e que neste país obeso não consigo encontrar, graças a uma dieta de cultura, de espontaneidade, de conhecimento, de sal da vida. O que na Polónia aprendi pelo contraste, pela diferença, aqui aprendi pela falta, pelo vazio.
Pareço desiludido? Não! Não se enganem. Apenas consciente de onde estou, e felizmente, ainda consciente de quem sou, para onde quero ir, para onde vou, e nunca esquecendo de onde vim. Hoje faz seis meses que cá cheguei. Hoje posso dizer que está a valer a pena. Hoje, 6 meses depois, recebo aqui um dos meus melhores amigos. Daqui a uns 3 meses, completo o processo de reencontro com todos vocês.
Um abraço,
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