San Diego Chronicles

... o sabor da Tequilla e das enchiladas, o brilho da areia, as ondas do Pacífico, as cores do México, o som do Jazz, dos Blues, do Funk, o movimento nas ruas, aquilo que me surpreende, o que me fascina, o que me apaixona, o que me chateia, ou apenas aquilo que me vai na cabeça...

Tuesday, May 03, 2005

Fim de Semana em Palm Springs

Depois de uma viagem de cerca de duas horas e meia chegámos a Cathedral City onde nos esperava o nosso Holyday Inn. Cathedral City é uma cidade a leste de Palm Springs, praticamente colada a esta. Estas são todas cidades relativamente pequenas, que se sucedem umas às outras, formando um aglomerado único. Estas cidades são Palm Springs, Cathedral City, Palm Desert, Indian Wells, Indio e Coachella. Acho que não me esqueço de nenhuma… Estas cidades ficam num vale extenso e plano rodeado por cadeias montanhosas, bem encostadas a uma das cadeias de montes, canyons e montanhas, das quais se destaca o Monte de S. Jacinto. Palm Springs, a cidade mais conhecida delas todas, fica bem aos pés desse monte com mais 10.000 ft, que equivale a 3.000 e tal metros.


O Monte de S. Jacinto ao fundo, visto de Cathedral City.
Ao fundo fica Palm Springs. Posted by Hello

A paisagem é muito bonita e perto do surreal. De repente dou por mim a tomar banho numa piscina a destilar com o calor infernal do deserto, uma imensa superfície plana estende-se até aos declives dos montes em volta, e vejo ao fundo, bem alto, o pico do Monte de S. Jacinto branco de neve a brilhar ao sol. Pelo caminho em direcção a Palm Springs, nota-se a mudança gradual na paisagem, à medida que avançamos para leste e transpomos a barreira das montanhas, com o verde intenso e variado a começar a dar lugar ao sépia e ao castanho amarelado, e a vegetação abundante e frondosa a dar lugar a uma vegetação mais casual, e quando chegamos ao vale onde se situa Palm Springs, vemos ja um cenario desértico com muita areia, vegetação rasteira, e alguns cactos e arbustos. A auto-estrada passa também por uma imensa composição de ventoinhas gigantes, uma estação eólica monstruosa que tenta tirar partido dos ventos do deserto que, como pude constatar na última noite, podem ser muito fortes, e formam cenários bem interessantes entre as superfícies inóspitas e as montanhas enormes.

A paisagem a caminho de Palm Springs
era bastante interessante.

A estação eólica que vimos pelo caminho
proporcionou paisagens bem originais.

Palm Springs é uma cidade que renasce agora de um certo abandono. Segundo li, a cidade teve os seu anos dourados nos anos 40, 50 e 60, quando Hollywood a elegeu como destino para refúgio da agitação de LA e Hollywood. Muitas personalidades tiveram ou têm aqui casa, e em Downtown, junto ao Teatro da cidade, um pequeno passeio da fama imortaliza quem por ali passou. Sem estar muito atento consegui encontrar debaixo dos meus pés as estrelas de Marilyn Monroe, Elvis, Frank Sinatra ou Marlene Dietrich.

O culto retro e a omnipresença dos famosos é constante.
A arquitectura é muito interessante para quem, como eu, gostar do estilo Bahaus, minimilista, muito ao jeito dos anos 50 e 60. A cidade manteve-se assim até hoje, sem grandes construções novas, o que lhe dá um ar engraçado e pitoresco, remetendo-nos por vezes para outras épocas que povoam o nosso imaginário. Downtown é praticamente duas avenidas longas e largas que correm paralelas. Nessas avenidas temos lojas de roupa, mobiliário (minimalista e retro em grande parte), restaurantes, bares, no fundo um pouco de tudo como em todas as outras cidades. Algumas lojas cultivam uma imagem retro, pois devem saber que esse é um dos encantos da cidade. Acabei por ir almoçar um dia a um mítico Dinner, o famoso Ruby’s, onde tudo nos remete para os anos loucos do rock & roll. A música, a empregadas com os fatos da época, o design do mobiliário e da decoração… tudo. Imaginei-me de poupa e brilhantina, casaco de couro, e cigarro no canto da boca, ao verdadeiro estilo Travolta.

Ruby's... há coisas que nunca mudam.

A cidade tem cerca de 45.000 habitantes, mas tudo o que se consegue ver são hotéis, e mais hotéis. Dos 45.000 habitantes que vivem lá, quase todos devem trabalhar em hotelaria ou afins. Digo eu … E o que digo para Palm Springs digo para as outras cidades adjacentes. De todos, destaca-se o mítico Hotel Califórnia imortalizado pelos Eagles! Um edifício discreto mas engraçado que está na Highway 111. O meu era um dos milhentos Hollyday Inn espalhados pelo mundo. Uma miséria de um pequeno-almoço continental, e uma piscina milagrosa que me soube pela vida para combater o calor que a partir das 10 da manhã já se fazia sentir. Foi um fim de semana à grande!
Aqui passei eu um bom bocado.
Quando chegamos fomos jantar e beber um copo. A primeira paragem foi num bar manhoso com um karaoke horrível, mais horrível do que um karaoke em geral é. Deu para notar que o ambiente e as pessoas são mais brutos que o very stylish de Downtown San Diego. Uma mistura de turistas universitários em férias a cair de bebados, com uns locais durões enrijecidos pela agrura do deserto. O segundo bar em que entramos foi um excelente exemplo. O porteiro disse-nos que estava mesmo a começar um concerto. A atracção era Led Zeppelin tocado por uma banda de mulheres. Hummm … pareceu-me interessante. Adoro Led Zeppelin e mulheres… Não podia correr mal! Mal entrei reparei o que era previsível. O publico era 95% homens! Havia um desequilíbrio hormonal propício à confusão. Mas afinal o que é um verdadeiro concerto de rock!? As meninas tomaram as suas posições e o concerto começou com duas músicas da sua autoria. Um rock bem agressivo ao jeito do verdadeiro rockeiro da velha guarda. E eis que tocam a primeira música de Zeppelin! E à segunda já há porrada! É assim mesmo! Parecia aquelas porradas de salloon. Foi mesmo ao meu lado que começou, e o tipo que provocou aquilo tudo já lá nem estava quando desatou tudo à estalada. As meninas, muito profissionais, continuaram a sua cavalgada pelos êxitos dos Led Zeppelin. E meus amigos, devo dizer-lhes que elas eram um espectáculo. Faziam um sucesso no Uptown Nuno! A vocalista era fabulosa. Uma atitude bem mais máscula que muitos homens de barba rija. Grande pose em palco, e uma voz pujante, colocada, sem nunca fugir do tom, tanto a berrar como a cantar em tons mais baixos. Metia muita gente dos grandes palcos num bolso. Depois, das outras, só não notei muito na baixista. A guitarrista era bastante boa, e apesar do ar um pouco frágil, agarrava-se às cordas com vontade, tendo os solos e os rifs bastante bem estudados. Talvez não fosse tão boa na parte rítmica. E a baterista era um poço de energia. Nem sei se lhe vi a cara. Só se via uma cabeleira loira a voar à volta da bateria, e uns braços a sair de lá de dentro e a bater em tudo à sua volta, com bastante ritmo, bem nos contratempos e nas paragens. Sinceramente, este concerto foi uma boa surpresa. Até ao fim do ainda houve porrada outra vez, o que deu um colorido maior à festa, e principalmente aos olhos daquele jovem. E assim se passou uma noite na cidade mais glamourosa e “in” do deserto.
Mulheres de pelo na venta!
E aqui vos deixo com mais uns instantâneos da minha estadia em Palm Springs. Amanhã trago-vos aqui os relatos do festival, e de locais de uma beleza natural indescritível.

Mais uma perspectiva do meu local de ócio de fim de semana.

Por incrível que pareça, esta vista também é da piscina onde do meu hotel.

E agora que falamos nisso... esta também é ....

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