San Diego Chronicles

... o sabor da Tequilla e das enchiladas, o brilho da areia, as ondas do Pacífico, as cores do México, o som do Jazz, dos Blues, do Funk, o movimento nas ruas, aquilo que me surpreende, o que me fascina, o que me apaixona, o que me chateia, ou apenas aquilo que me vai na cabeça...

Friday, April 29, 2005

A Caminho do Deserto ... e de um Oásis

Esta sexta feira vou de fim de semana. Deixo San Diego em direcção ao deserto no interior da Califórnia, mais ao menos 250 km a nordeste da minha cidade anfitriã. O destino é Palm Springs (http://www.ci.palm-springs.ca.us), um oásis criado pelo Homem no meio do deserto da Califórnia, onde foram plantados hectares e hectares de relvados verdejantes, construídos milhentos hotéis, repletos de piscinas e spas, casinos e diversão quanto baste. Pelos vistos tornou-se já há umas décadas um destino de refúgio de San Diego e Los Angeles, e de um pouco de toda a Califórnia e estados vizinhos como o Colorado e o Nevada. Destino famoso, ou não estivesse eu à procura de hotel e não aparecessem inúmeras referências a famosos que por lá passaram ou tiveram casa, como o Elvis, o Liberace, Dean Martin, Frank Sinatra, Marylin, e por aí fora, num rol interminável. Objectivo primeiro será então ver o aspecto de tão caricata cidade fantasia plantada no meio da aridez do deserto. Objectivo segundo, mas em mesmo nível de grandeza do primeiro, ir a um festival de música e artes que decorre no Coachella Valley em Palm Springs. Se a ida a Palm Springs já estava nos meus planos há uns tempos conjugada com uma ida ao Joshua Tree National Park, o festival surgiu apenas na segunda ou terça feira, e precipitou a viagem. Em boa hora! O festival tem um cartaz de respeito, do qual destaco uma banda que nunca vi, e que tinha há anos uma grande vontade de ver, e que são os geniais Nine Inch Nails. Mas não se fica por aqui, pois posso ainda ver os Chemical Brothers, os desaparecidos Prodigy, and soo n, and so on. Podem ir ver o evento em http://www.coachella.com/. Como terceiro objectivo estará uma eventual visita ao parque de Joshua Tree, que deverá ser interessante. Será também interessante rever uma amiga do Porto que se encontra a viver no EUA neste momento, e que vem à Califórnia para assistir ao festival. A diáspora do emigrante estará presente em Palm Springs! E assim serão os meus próximos dias. Provavelmente uma mão cheia de linhas bombásticas a destacar tão fabuloso fim de semana irá colorir este blog para a semana.

Monday, April 25, 2005


A casa com o Dj, e com os quadros... Art Walk a bombar! Posted by Hello

Art Walk

Este fim de semana cá o bairro andou animado. Houve uma feira de arte chamada Art Walk que pôs isto tudo num rebuliço. A feira consistia numa mostra de pintura, fotografia, escultura, e outras formas de arte, no meio da rua em pequenas barracas montadas para o efeito. Várias ruas foram cortadas, centenas de pessoas no meio da rua, garagens abertas com exposições, limonada, laranjada, farturas, salsichas alemãs, peixe frito, pizza, ou não estivéssemos em Little Italy, e concertos e performers a animar as ruas. Muito interessante. Hoje passei a tarde a andar por lá, de um lado para o outro, a ver quadros, fotografias, alguns bons, outros nem por isso. Parei para ver um concerto que me soava bem, e acabei por ficar bastante tempo a vê-los, e cheguei mesmo a comprar um cd deles por 10 dólares e assinar a mailing list da banda. Para a semana vão tocar no Wilson’s em Ocean Beach, e pode até ser que por lá apareça. Alfred Howard and the K23 Orchestra, uma banda interessante, com bons músicos, numa onda muito jazzística fusão com funk e rock, e o vocalista a cantar os seus poemas, na onda meio rap, meio cantado. Nada de muito inovador… mas soava bastante bem. O vocalista e letrista tinha bom feeling e postura a condizer, o teclista era bom, o guitarrista também, e o percussionista era também bastante bom nas congas e outros apetrechos. Podem ir a www.alhowardk23.com investigar um pouco mais se vos apetecer. Gostei também de uma casa com uns quadros pendurados na varanda, no 1º andar, quadros espalhados pelo jardim em baixo, com um dj na varanda a pôr música para a rua e a debitar grande som. Podia entrar-se para o jardim onde tinha várias coisas expostas. Aquilo dava era alta festa. Ainda tenho que encontrar assim uma festa por aqui, numa casa, com dj, cerveja, e só pessoal vindo sabe-se lá de onde. E assim se passou um domingo, com grande festarola mesmo à porta de casa.




Alfred Howard & The K23 Orchestra Posted by Hello

Friday, April 22, 2005

Warning

A intranet da minha empresa é bastante interessante e completa. Nela se pode conhecer melhor a empresa, ver a cotação da empresa no NASDAQ, ver o últimos grandes negócios feitos pela empresa, noticias de encontros organizados pela empresa, press releases, ver as pessoas que cá trabalham, e muito mais. Há dias tinha lá o seguinte aviso:

We had our first snake sighting of the year today in the parking lot. With the brush and canyons surrounding our facilities, it is possible that we will have additional snakes sightings during the warm summer months. Please use caution when walking along sidewalks or through the parking lot.If you encounter a snake around our facilities, please contact any member of the Facilities Dept.

thanks
Sean

Bem, amigo Sean. Se eu por acaso encontrar esse bicho no parque de estacionamento espero sobreviver para contar. E se sobreviver e possível que não me apetece nunca mais vir trabalhar para este ninho de cobras. E o que quer dizer ele com “our first snake sighting”? Para mim é óbvio que quer dizer que esperam ver mais. Que raio de perigo trabalhar por aqui! Já me avisaram que elas se podem meter debaixo dos carros para se protegerem do sol. Para dar uma olhadela antes de ir para o carro. Ou seja, vou andar 3 ou 4 meses com os tomates na mão cada vez que for buscar o carro, enquanto durar o verão. Não sabem ter pombas e ratos como um país normal! É logo cobras só para ser diferente! Bem… se eu deixar de escrever umas crónicas para aqui, podem especular sobre o que me aconteceu mais facilmente a partir de agora.

Aberto Até de Madrugada ... ou Quase ...

Aqui, o dossier “sair à noite” exigiu alguma readaptação. Logo para começar, e talvez o aspecto mais estranho aos nossos hábitos: aqui ás duas da manha está tudo fechado, o que quer dizer que em pleno sábado ás duas menos um quarto está-se a ligar as luzes e a parar a música. Isto inviabiliza os meus jantares ás 10.30. A essa hora já deveria estar a bombar num club qualquer e a mamar umas Pacífico ou umas Bud! Ás 18.30 / 19.00 os restaurantes e bares já estão vibrantes de animação, com gente a comer e beber e a preparar uma noite de deboche! Eu ainda não consegui regular o meu relógio nesse sentido, mas a coisa vai lá. Já na Polónia tive que me adaptar a uns horários parecidos, mas de qualquer maneira mais flexíveis. Havia sempre onde ir ate mais tarde. Aqui fecha tudo. Até as ruas. Se forem 3 da manhã e estivermos na rua parados a conversar, é certinho que somos abordados pela polícia, e encorajados convictamente a pôr-nos a andar dali. Isto e se não formos logo algemados antes de qualquer abordagem formal. Uma espécie de recolher obrigatório camuflado. Aqui, para a polícia dar um tiro em alguém não é preciso muito. Mas também vou ser sincero, nunca senti uma grande repressão no ar. Pensei que ia ser mais impositiva a posição da polícia. Mas já vi muitos jovens algemados não sei bem porquê. Em geral parece ser problemas com os carros. Álcool, falta de documentos, ou carros mal parados. Deve dar uma noitita na casa do Sherif, que até fica a caminho de minha casa. Na semana passada fui a pé para casa depois de ter estado num bar e aí sim senti-me observado. Um helicópetro voava em círculos por cima de mim, e por cima dum par de quarteirões. Estava mesmo a irritar-me aquilo! Apeteceu-me mostrar-lhes o diplomático dedo do meio da minha mão direita, mas não duvido que em 30 segundos tinha cinco carros da polícia à minha volta, e estava a cheirar o passeio com uns joelhos nas costas. Por isso achei melhor apenas vociferar impropérios adequados à situação.
Voltando à noite, que isto já descambou para os casos de polícia, também já me falaram que há uns bares que realmente ficam abertos até ás 4 da manhã. Tenho que os descobrir! Um deles foi uma amiga minha polaca (como não podia deixar de ser) que me falou de um bar mexicano perto de casa dela. Mas não sei não… Um bar Mexicano aberto até de madrugada… Cheira-me a esturro… Mas ainda hei-de descobrir algum que me permita prolongar as quentes noites da Califórnia. O que me parece ser a investir são as festas em casa de alguém. Claro que há sempre o risco de irromper a polícia pela casa dentro a disparar bolas de paint ball cheias de gás pimenta, como já me descreveu um san dieguense com que falei. Mas alguns clubs aqui têm outra característica interessante. Nas casas de banho há um cicerone para nos servir. Só não nos segura na … whatever. Mas de resto, quando nos dirigimos ao lavatório abre-nos a torneira, esguicha sabão líquido para as nossas mãos, e depois fornece-nos papel para as limparmos. Isto sempre com uma postura servil e um sorriso aberto. Claro que espera um ou dois dólares de gorja, e claro que eu não dou. Depois, na zona dos lavatórios temos um manancial de produtos para nos servirmos. Cremes hidratantes, gel para o cabelo, perfumes, pastilhas para o hálito, tic tac’s, chiclets, rebucados, e por ai fora. Paneleirices a mais, mas a pastilha de mentol soube-me bem para tirar o travo a levedura da cerveja que tinha bebido uns minutos atrás.

Wednesday, April 20, 2005


San Diego Bay II Posted by Hello


San Diego Bay Posted by Hello

A Minha Vida Dava um Filme... ou Quase

A minha carta cor de rosa, bafenta e mole corre o risco de ser considerada obsoleta neste país por um qualquer Ranger, ou Highway Patrol, e vai daí que houve que tirar uma carta local de modo a tentar não ser alvejado e figura principal num episódio do Cops. Lá me dirigi à DGV cá do sítio para tratar do assunto. Entrei… aliás, não entrei, porque a fila vinha ate cá fora. Esperei pela minha vez de receber um ticket com o meu número de atendimento e esperei. Encosto-me a um canto, e sinto-me observado. Uns olhos ferozes no meu encalço quase queimam as minhas costas. Tenho medo de olhar para trás. Disfarço. Assobio. Ao assobiar improviso a música errada. Música demasiado provocadora. Mas que raio, é sempre a música com assobio incorporado que me vem à cabeça, principalmente aqui na Califórnia. Sim, a do Enio Morricone para o épico do Sergio Leone, a pautar as texanas do Clint Eastwood. The Good, The Bad & The Ugly. Olho pelo canto do ombro, viro lentamente o pescoço. Ninguém. Do outro lado uma mulher preenche uns papéis. Quem me queima com o olhar? Perco o medo, encho-me de tomates, e olho para trás num repente quase gritando “Are you talking to me? Ahh? There’s nobody else around here! You must be talking to me!”. Mas não! O filme era outro… Para meu espanto vi o Exterminador, o Predador, o Bárbaro mesmo a cheirar as minhas costas. Petrefiquei. Com o olhar clamei piedade. Mas não… segundos de clarividência descortinaram um plano 2D. Era uma fotografia e não o bicho em carne e osso. E não era o Exterminador! Era o excelentíssimo senhor governador da Califórnia! Uma foto respeitável (se viram o Conan sabem o que quero dizer) tipo passe, sem adornos cinematográficos, com uma legenda a indicar o seu cargo, e a lembrar que é dele a tutela do Código da Estrada da Califórnia, e das leis que lhe estão adjacentes. Agora parecia estar no cinema, com aquela foto a fazer lembrar o átrio bafento do Cinema do Terço, num anúncio a um filme antigo qualquer. No Porto era governado por um palhaço, na Califórnia por um actor… venha um crítico e escolha.

As Primeiras Visitas

Já tenho marcadas as primeiras visitas a receber. Imbuídos do espírito “vá pra fora cá dentro”, o Rui e o João, companheiros de aventuras americanas, vão inaugurar o chão de minha casa marcando presença em San Diego daqui por duas semanas. O Rui, depois de assassinar um intruso caseiro à força de pau e palha com a vassoura do IKEA, vem em retiro sabático, em introspecção pós óbito, trocando a frieza de Washington pelo calor da Califórnia. Memória ao ratinho! Já o João desce cerca de 800 km para sul para transpor mais de metade da Califórnia, na distância que separa San Francisco de San Diego, e vem à procura de algum sol, uma boa rockada, e umas cervejas geladas. Os dois vêm sedentos de deboche. Resumindo… daqui a duas semanas vai haver festa da grossa em San Diego, pelo menos a ver pela amostra que tivemos em Espanha há quase dois meses atrás.
Por falar em festa, na quinta em que eles estão cá temos a actuação dos Thievery Coorporation bem pertinho de minha casa. Pode ser uma noite bem passada, pelo menos diferente do hip hop comercial do costume. Se não temos sempre o Henrys com a sua banda tributo aos anos 80 mais rockeiros. Mas ainda mais bombástico será mesmo a festança que deve ser o 5 de Maio, festa grossa mexicana. Não sei qual o programa da cidade para as festividades, mas de certeza que pede uma boa Tequilla à moda do Rui. Copo alto e 3 palhinhas por favor!

Diferenças

Vamos lá fazer um pequeno parênteses para expor uma espécie de estudo comparativo entre os EUA, mais precisamente a Califórnia, e o nosso Portugal.

O outro dia passei numa rua do centro da cidade a meio da manhã, e qual não é o meu espanto quando vejo a rua toda esventrada, só com uma faixa disponível, um tractor a trabalhar a todo o vapor, canos espalhados pelo solo, trabalhadores em roda viva. Montaram o estaleiro num instante, pensei eu que tinha lá passado no dia anterior. Fui á minha vida, e por acaso passei nessa mesma rua, que por acaso é a 4ª Avenida, já de noite pela hora de jantar. E foi então que multipliquei o espanto da manha por 1000 quando vi que a rua estava limpa, alcatroada, sem tractores, na plenitude das suas 4 faixas. Incrível como num dia resolveram um qualquer problema e devolveram a rua aos cidadãos. Mas o espanto não se ficaria por aqui, pois tripliquei-o quando no dia seguinte pela manhã vi a rua de novo aberta, com tractores, canos no meio da rua, e gente atarefada de um lado para o outro. A diferença era que o buraco parecia ser um pouco mais à frente alguns metros. Conclusão: eles abriam um buraco que dava para um dia de trabalho, executavam, e fechavam no mesmo dia. Provavelmente seriam segmentos que representavam objectivos diários de trabalho, e que teriam impreterivelmente que estar prontos e fechados nesse dia. Não preciso lembrar como é em Portugal pois não?

Mas, porque nem isto é propriamente um modelo, nem Portugal uma esterqueira, aqui fica outra nota. Aqui, os Bancos são a coisa mais antiquada, ineficiente, inútil, e estúpida que se possa imaginar. Já tinha ouvido que o sistema ATM português era dos melhores que por aí andavam, mas andava longe de imaginar que aqui fosse do género o Banco dos Flintstones. Nas caixas ATM só se levanta dinheiro ou se vê o saldo. Mais nada. Mas isto não é nada. No meu Banco é algo inédito fazer uma transferência directa como pagamento, como por exemplo eu deixar uma ordem de pagamento para todos os meses serem transferidos tantos dólares para a conta da minha senhoria. Posso tentar fazer os pagamentos por net, um sistema que muito simplesmente envia um email para o banco com as minhas informações, e o banco pela mão de algum funcionário bancário passa um Cashiers Check por nós e envia-o pelo correio para a morada referida. E ainda pagamos 7 dólares! Podia ser mais idiota? Por falar em net, o meu banco tem um site onde usufruo de uma página pessoal. Mas, é uma pagina que não serve para nada. A única coisa que posso fazer é ver o saldo, e os movimentos, e fazer transferências dentro de contas do mesmo banco. De resto o site não serve para nada. O outro dia não tinha acesso à net, e precisava de transferir dinheiro de Portugal para a minha conta. Pedi então ao nosso account manager, o Tony, para usar um computador para consultar a minha conta portuguesa via web. Ele terá achado um bocado estranho, mas lá me levou a um computador onde tinha acesso à internet. Quando viu o site do BES, me viu a fazer uma transferência internacional, e o número de operações que podia fazer pelo site, comentou com a colega “Uau! Pretty advanced isn’t it?”. That’s right my men! That’s how we do it back there! Respondi eu com o meu sorriso!

Enfim, só para mostrar que podemos tirar bons exemplos de um país tão avançado (ou não!) como os EUA, mas que também lhes podemos ensinar muitas coisas, se porventura perdermos algum dia a postura subserviente e a mania que somos piores que todos os outros. Onde andam essas empresas portuguesas de software para equipar estes bancos todos?


Baía de San Diego num domingo um pouco cinzento. Posted by Hello


A minha bicicleta em mais uma volta pela Baía de San Diego. Posted by Hello

Tuesday, April 12, 2005

Let's Play Ball ...

Na última quinta feira algo aconteceu em San Diego. Algo importante e iconográfico da cultura norte americana. Algo que fez com que em San Diego nessa noite quase toda a gente ostentasse um boné azul-escuro com a palavra Padres escrita. Abriu a época de Baseball, e “Los Padres” são a equipa local de San Diego. Já há muito tempo se viam alusões à equipa, como calendários dos jogos, venda de “season tickets”, publicidade de patrocinadores. Na quinta começou a época com um jogo que pelos vistos correu bem à equipa da casa. No entanto nada definitivo, visto que sexta e sábado o jogo continuou! Sinceramente, qual é a piada de ir ver um jogo que dura três dias? E cada dia dura para aí três horas. É a maior seca da história do desporto, só ultrapassada talvez por assistir a uma partida de xadrez ao vivo. Vai mais ou menos dar ao mesmo, mas o espectáculo está pouco aproveitado no xadrez, actividade nobre e interessante, mas com poucas actividades paralelas, como cheerleaders, vendedores de chachorros, ecrãs gigantes, speakers, e por aí fora. Passei de bicicleta ao largo do estádio, e na rua está-se quase lá dentro. Os estádios de basebol são abertos num dos lados, porque o que interessa do jogo está do outro lado, e neste caso a rua passa do lado aberto, onde apenas uma leve colina e uma pequena grade separa a rua do campo de jogo. Estando na rua, podemos ver as bancadas todas a vibrar, sentir o ambiente do estádio, e na verdade podemos mesmo ver o jogo, já que existe um ecrã gigante nessa colina a transmitir o jogo na íntegra para satisfazer a curiosidade dos transeuntes e curiosos. Nem um polícia nas imediações do estádio. Apenas umas pequenas marcas à entrada das ruas circundantes a indicar a proibição da circulação que ninguém infringiu. Só consigo imaginar que em Portugal estava mais gente cá fora que lá dentro para tentar ver o jogo, e não havendo polícia forçariam mesmo a entrada no estádio. Culturas diferentes. Não gosto muito do autocontrolo exagerado e incondicional de muitos americanos, mas é bonito ver as pessoas agirem civilizadamente em situações como esta. De resto diga-se que o que disse em cima sobre se poder ouvir as pessoas a vibrar no estádio é pura utopia. Os jogos de baseball não têm interesse nenhum 98% do tempo do jogo, e por isso ouvem-se apenas umas palmas tímidas na troca de lançadores, e volta e meia uma ameaça de vibração, mas que fica-se sempre por falso alarme. O correspondente a uma pequena finta de um médio a meio campo sem perigo subsequente num jogo da superliga. Muito frouxo.




Estádio de Los Padres no jogo inaugural. Posted by Hello

Sunday, April 10, 2005

Pacific Coast Highway

Ontem comecei a explorar outras paragens. Percorri a costa do Pacífico até Ocean Side, uma vila a 60 ou 70 km do centro San Diego. Fui pela Interstate 5 em direcção a norte, e saí em Del Mar Heights. Até Del Mar já conhecia mais ou menos as praias e as zonas, e por isso decidi começar por Del Mar. Já me tinham dito que tinha uma praia porreira, e aliás essa era o meu primeiro objectivo: fazer praia. Mas, apesar de estar alto sol, havia um vento fresco e desagradável, um bocado ao jeito da nossa tão querida nortada, e comecei então a elaborar outros planos. Parei ás portas da Torrey Pines State Reserve, uma pequena reserva natural que ainda não visitei, e dei um passeio por ali. A entrada da reserva é numa estrada que separa o campo da praia. Uma praia engraçada, mas com um areal pequeno e uma areia um bocado escura, pouco normal para estes lados. Bem, por esta altura o cenário de fazer praia ainda se punha, mas comecei a sentir a nortada californiana na pele, e decidi ir procurar uma praia com melhor aspecto e mais abrigada. Há uma coisa que tenho notado. A cara da Califórnia é o rock! O hardcore, o punk, o rock & roll e outros sons mais agressivos! E eu que nos últimos anos tenho arrumado um bocado para o lado os meus cd’s mais hardcore e optado por sons mais chill out, tranquilos e electrónicos, estou agora a escrever este texto ao som de Jimi Hendrix e da sua Fender Telecaster. Não é só por se ouvir muito esse tipo de música aqui. É que é realmente o que apetece ouvir! O que aconteceu então foi que entrei no carro em Del Mar, e quando me faço à estrada o rádio estava a debitar o La Woman dos Doors. Vai daí, ponho a telefonia aos berros, e siga por ali acima embalado pela música, imbuído de uma espécie de espírito Easy Rider. Ouvir o La Woman numa estrada da Califórnia, a conduzir à beira mar, pelo meio de restaurantes mexicanos, lojas de surf, bares de motoqueiros, lado a lado com Harleys e Pick Ups com pneus do tamanho do meu carro, é uma experiência interessante, uma espécie de “back to the roots” musical, geracional e espiritual. Depois do La Woman veio o Heartbreaker dos Led Zeppelin, e por aí fora, com clássicos como o Smoke on the Water dos Deep Purple, entre outros. Esta energia fornecida pela comunhão da música com o sol, a estrada e as praias, levou-me a percorrer um bom pedaço de costa. Fui parando em alguns spots interessantes, para conhecer as praias e os sítios, e passei por locais como Encinitas, Solana Beach, Carlsbad, Ocean Side, San Dieguito Del Mar, Cardif by the Sea, entre outros. A estrada era a Route 101, “historic route” segundo diz a placa. Não sei bem porquê, mas lá terão as suas razões. A estrada é muito interessante de percorrer, boas vistas, do mar, de praias, de bares de motoqueiros, de um pouco de tudo. Parei para comer no “Armenian Café – Armenian and Greek Cuisine” em Carlsbad, um sítio engraçado com uma comida com um gosto mediterrânico que me soube pela vida. A viagem acabou em Oceanside, no porto e na praia. Uma zona muito interessante o porto, e a praia é das melhores que vi por aqui, com um areal gigante a acabar numas palmeiras. A explorar… Começa a aquecer o tempo e a anoitecer mais tarde, e eu vou começar a sair do trabalho directo para a praia.


Praia em Carmell Valley Posted by Hello


Praia de Oceanside Posted by Hello


Praia de San Dieguito Del Mar, a norte de Encinitas. Posted by Hello

Saturday, April 09, 2005

Sabores


Filipi´s!! Alguém encontra aqui a verdadeira especialidade? Posted by Hello


Eu nem sou daqueles saudosistas da comida portuguesa, nem suspiro por um naco de bacalhau. Sou mais do género de tentar absorver a diversidade, claro, sempre fiel ás minhas origens. Bem, a diversidade por aqui é muita, e não é nenhuma ao mesmo tempo. A comida típica são hamburgers, frango frito, sushi e noodles, ou tacos, enchiladas e burritos. A certa altura é vira o disco e toca o mesmo. E como é lógico sabe bem determinados luxos gastronómicos, como um simples pedaço de pão bem tostado, com as doses certas de sal, farinha e fermento, ou uma pinga de café que não pareça uma cabidela com cafeína.
Ora como já disse, vivo ás portas de Little Italy, um bairro simpático, tranquilo, animado que baste, com alguma dose de charme. No entanto, ainda não tinha explorado o bairro decentemente. A meio desta semana descobrimos a 5 minutos de casa uma loja abençoada! O Filipi’s! A entrada é uma espécie de mercearia que se estende por uns metros, com tudo ao monte bem ao jeito latino europeu, desaguando no restaurante mais à frente. Um cheirinho a comida como já não sentia há umas semanas. O cheirinho do alho, do tomate fresco refogado com orégão e azeite… enfim… um consolo. Mas vamos ao que interessa. Ali descobrimos um pão excelente, que não parece recesso desde que sai do forno como o pão americano. Aqui pude comprar um fiambre e um queijo em condições e muito mais barato. E mais … aqui vimos azeite português, apesar de ser de uma marca que nunca lá vi, e também um outro com rótulo italiano, mas com uma menção honrosa de “produzido em Portugal”. Também havia um vinho manhoso português que nunca tinha visto na vida, e mais produtos, como várias marcas de atum em lata que eram italianas de embalagem, mas portuguesas de coração. E ao balcão podia ler-se num quadro, entre outras especialidades, a conhecida (?) “Portuguese Linguiça”. Já podemos fazer Francesinha! A partir de agora temos uma mercearia de eleição pertinho de casa, com alguns sabores que nos podem tirar da monotonia oleosa dos fritos e refritos, hamburgers, tacos e afins. Abençoada mercearia! Como diriam estes americanos… God bless you!

Wednesday, April 06, 2005


Ocean Beach ainda em meados de Março. Agora está melhor!! Posted by Hello


Ocean Beach Pier - Vai um café? E já agora... Quem precisa de telefonar do pontão? Posted by Hello

Tuesday, April 05, 2005

Uma Boa Surpresa

Há que registar que hoje recebi uma boa surpresa proporcionada pelo meu amigo Fred, residente na capital deste império de fast foods e armas nucleares de seu nome Washington DC. Um postal que sempre vai dar um toque mais pessoal ao meu quarto, já que não trouxe fotografias de ninguém nem nada que personalize o meu cantinho. Apenas alguns livros na língua de Camões, para me lembrar de onde vim. Foi uma boa surpresa Fred. Obrigado! E desde já abro a minha caixa do correio a outros escritores ocasionais. Quem me quiser escrever um postal com umas frases idiotas de ocasião, aqui tem outra vez a minha morada: 300 West Beech Street #203 92101 San Diego – Califórnia.

1 Mês

Um mês passou a voar. Eu bem sei que este primeiro mês teve tudo menos monotonia, e por isso passou rápido. Vão haver meses que se vão arrastar mais com certeza. Mas isto só dá para ver que o tempo passa num instante e não há tempo de olhar para trás. Há que aproveitar, tudo, a toda a hora. Carpe diem!
O balanço deste primeiro mês só pode ser positivo. A adaptação foi um problema que não tive. Não costumo ter dificuldade em adaptar-me a outro países, outros costumes, outras culturas, e definitivamente a Califórnia não é um sítio difícil de se adaptar. Sol, praia, bom tempo, pessoas simpáticas, ambiente cool, e um sem número de actividades para nos distrair, não são propriamente handicaps a uma boa adaptação. Numa semana e um dia tínhamos casa, e num sítio onde pouca gente aqui acredita que tenhamos conseguido. Também acho que foi uma boa conquista. Embora ás vezes fique a pensar como seria ter ficado a viver em Pacific Beach. Já comprámos grande parte dos essenciais. Falta o carro, o que também não se pode considerar um falhanço propriamente. Aliás, amanhã esse assunto fica arrumado, e acabaram-se os carros de aluguer. Acho que vamos fazer uma boa compra, pelo preço que é. De resto, já vou conhecendo algumas pessoas. Já me movimento bem pela cidade. E penso que só agora que não temos que andar sempre a correr para o banco, ou para o IKEA, ou para outro sítio qualquer, é que vou começar a ter a minha vida assente, e ter tempo para me embrenhar mais na vida desta cidade, conhecer gente, sítios. Isto só agora começou…

Monday, April 04, 2005

Domingo na Praia

Hoje, contra todas as perspectivas de um bom domingo, tive que acordar ás 10 da manhã para ir ver um carro. Felizmente não foi em vão, porque devemos comprá-lo. Um Chevrolet vermelho com alguma pinta, e bastante bom para o preço. Não tem ar condicionado, o que começa a fazer sentido à medida que o tempo vai aquecendo, nem mudanças automáticas, o que o pode tornar mais difícil de vender quando nos formos embora, mas no entanto o carro parece bastante bom, e a menina loirinha tipo aluna exemplar filha de cirurgião plástico podre de rico pareceu ter tratado bem do carro.
Já que estávamos em Crown Point, perto de Mission Beach e de Pacific Beach, rumamos para perto da praia para passar algum tempo. E meus amigos, estava um dia fenomenal! Aqui sim é nível de vida! Comprei uns calções de banho, e fui molhar os pés. Numa escala que vai de Moledo a Cuba, a temperatura dever-se-ia situar algures por Matosinhos! Que raio de água fria! Espero que seja o choque do primeiro contacto. Mas a praia estava muito boa. Muitas "babes", calor, restaurantes e bares porreiros! Que dias que vou passar por aqui! E que bem que se esteve deitado na areia depois de almoçar qualquer coisa. Ainda vimos o Fred que conhecemos no dia anterior, e ficamos a trocar mais umas impressões. E acabei por confessar que gostava muito de viver em Downtown, mas que viver ali pertinho da praia em Pacific Beach também deve ser muito bom. E é de certeza!
Depois fomos comprar mais umas coisas. Comprar tem sido o verbo mais conjugado cá em casa! Em geral no imperativo! Lá fomos para as milhentas grandes superfícies de Mission Valley. Aproveitei para comprar a minha bela bicicleta para ir dar umas voltas para o Balboa Park, o pulmão da cidade, ou para o passeio marítimo na baía, perto do porto. A minha vida começa a assentar. E perpectiva-se um resto de ano louco aqui por San Diego!



Fim de tarde ao longo da Interstate 5 - 01/04/2005 Posted by Hello

Sábado Lusitano

Ontem tivemos um dia bem português, regado a vinho (e Duas Quintas não é um vinho qualquer), cerveja (infelizmente Super Bock não havia), e uma bela de uma feijoada. Tudo começou vindo de um convite de um indiano que trabalha com a Joana. Venkat de seu nome, é casado com uma portuguesa de trás os montes que está cá a fazer o doutoramento, e que este fim de semana organizava uma almoçarada para uns amigos também portugueses. Vai daí, convidou-nos para nos juntarmos a eles, e nós, no verdadeiro espírito de viver a diáspora portuguesa na Califórnia, logicamente que aceitamos. Lá rumamos a casa da Carla e do Venkat meia hora atrasados como qualquer bom português, e como suspeitava não seria o último a chegar. Chegar a uma casa tipo vivenda de madeira como milhares por estas zonas residenciais da Califórnia, e ter uma anfitriã transmontana é algo quase surreal. A verdade é que a tarde foi passada num misto de portuguese & american style, mas o cunho português foi marcadamente mais forte, como seria de esperar. Foram chegando os convivas, todos portugueses, todos das áreas das ciências, e quase todos a tirar doutoramentos aqui. A excepção é a de um casal do Porto dos seus 30/32 anos, que estão cá já há 8 anos, e que pelos vistos não fazem tenções de voltar tão cedo. Ele, o Vasco, está a fazer o Pós Doutoramento, e no Porto era meu vizinho, literalmente. Vivia a menos de 5 minutos de minha casa e acabamos por perceber que tínhamos alguns conhecimentos comuns. Ele e a mulher estudaram na minha faculdade. E por coincidências e paralelismos ficamos por aqui que já chega. Tínhamos depois uma rapariga do Entroncamento, um rapaz de Lisboa que chegou há uma semana, e um que nem percebi muito bem de onde era. Percebi que estudou em Coimbra pois pertenceu à orquestra Pitagórica, e percebi que não fechava bem a mala! Fazia a festa toda. Só para dar uma ideia, passou a tarde toda com um saco plástico enfiado na cabeça! Não me perguntem porquê! Bem, ele era maluco, mas a feijoada dele era excelente! Também percebi que eram quase todos do FCP, o que é sempre reconfortante. Comemos, bebemos, jogamos ping pong no jardim traseiro da casa, assistimos impotentes às investidas homossexuais do Bono sobre o Porto (dois cães, registe-se), tocamos batuques e guitarra. Enfim… um serão bem passado. Do Vasco vieram excelentes dicas sobre continuar a minha carreira nos EUA, caso esteja interessado. Inclusive uma boa dica para contornar a regra dos dois anos inerente ao nosso tipo de visto, que diz que acabada a bolsa e a estadia aqui, não poderemos voltar para trabalhar ou estudar por dois anos. Também nos deram boas dicas sobre o seguro do carro, sobre universidades boas para tirar um mestrado ou um doutoramento, o Vasco inclusive falou-se de alguns bons contactos numa área que me interessa bastante, que é a dos vinhos. Do Fred, veio a promessa da ajuda na minha incursão pelo surf. Ele já arranjou casa em Pacific Beach, trouxe a prancha dele, e daqui por pouco tempo mando-me com ele para experimentar o desporto rei da Califórnia. Do Venkat, o indiano, coitado, por vezes meio deslocado no meio de tanta tuguice, veio a música, a simpatia, e o agendar de umas jam sessions multi culutrais musicais para outros serões. Em Abril haverá mais um encontro Lusitano, agora na casa do Vasco e da Paula. Foi bom ter uma tarde assim, descontraída, ouvir portugueses da nossa geração (um pouco mais velhos) a falarem de algumas experiências aqui, receber alguns bons conselhos, e comer uma feijoada transmontana Portuguese style!